Como minimizar os efeitos colaterais dos remédios psiquiátricos
O tratamento deve ser individualizado e buscar a melhora dos sintomas físicos e psíquicos além de propor as mudanças ambientais necessárias.
A inclusão de modalidades terapêuticas não farmacológicas ao tratamento psiquiátrico tem melhores resultados do que o tratamento exclusivamente medicamentoso, quando possível, pois colabora para a redução das taxas de reinternação, aumento da adesão ao tratamento medicamentoso e do funcionamento social do paciente¹ .
Há casos como, por exemplo, de alguns transtornos de ansiedade, em que a psicoterapia e/ou os exercícios físicos proporcionam as alterações químicas necessárias, dispensando o uso de remédios psiquiátricos.
Entretanto, quando muito grave, o tratamento psicoterápico pode não ajudar na restauração da saúde mental por si só4. Assim o diálogo multidisciplinar é importante para que o manejo adequado seja realizado nas diversas esferas profissionais visando a melhor resposta do paciente frente à doença apresentada.
A terapia farmacológica deve ser implementada com cuidado, sendo considerados o diagnóstico realizado as comorbidades clínicas, as medicações em uso e suas possíveis interações medicamentosas.
A literatura preconiza que profissionais avaliem as dificuldades e intensidade do desconforto para cada paciente e, quando possível, implementem ações para minimizar ou eliminar os efeitos colaterais¹ .
As medicações antipsicóticas, por exemplo, podem levar a complicações metabólicas e cardiovasculares e alguns críticos afirmam que o uso regular de medicação antipsicótica reduz a expectativa de vida tanto pela doença quanto pelas possíveis alterações clínicas geradas pelo tratamento.
Pesquisas também apontam que drogas antidepressivas podem produzir com o tempo uma adaptação fisiológica persistente que se manifesta como tolerância progressiva, resultado da administração repetida do antidepressivo³.
Assim o trabalho multidisciplinar realizado deve visar não somente a melhora global do quadro mas também a menor quantidade de medicação possível para a estabilidade do indivíduo. Contudo pacientes crônicos ou refratários costumam ser polimedicados, o que pode ser compreendido tanto pela gravidade do quadro quanto pela dificuldade de manejo medicamentoso, psicológico e comportamental e podem consequentemente apresentar maiores índices de efeitos colaterais.
Particularmente em quadros em que o tratamento seja de longo prazo e sujeito a intercorrências, como o do Transtorno Bipolar, uma abordagem educativa, com o(a) paciente, individualmente ou em grupo, e com a família, pontuando a sintomatologia do transtorno, efeitos colaterais da medicação, e alternativas individuais para aliviar efeitos colaterais pode ser precisa para manter a adesão ao tratamento5.
Como estratégia para minimizar os efeitos colaterais da medicação psiquiátrica se destaca a eletroconvulsoterapia (ECT).
Alguns autores afirmam que a ECT deve ser a ótima opção de tratamento nos casos em que há resposta insatisfatória ao uso de psicofármacos. Além de ser mais uma alternativa mais segura que tratamentos farmacológicos, para os fisicamente debilitados, os idosos e as gestantes, desde que com os devidos cuidado e monitoramento6.
A ECT também pode ser recomendada mesmo durante adequada administração de remédios psiquiátricos (quanto à dose e tempo de duração), quando não houver resposta terapêutica satisfatória, e se os efeitos colaterais em relação aos da ECT forem severos ou mais graves.
O olhar atento e humanizado ao paciente permitirá a equipe de saúde indicar a melhor conduta do caso frente as diversas alternativas possíveis de tratamento visando o bem estar global do mesmo e a minimização de efeitos colaterais.
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1 VEDANA, Kelly Graziani Giacchero et al. Agindo em busca de alívio: enfrentamento da esquizofrenia e dos incômodos ocasionados pelo tratamento medicamentoso. Cienc Cuid Saude, v. 12, n. 2, p. 365-374, 2013.
2 LEADER, Darian. O que é loucura?: Delírio e sanidade na vida cotidiana. Zahar, 2013.
3 AMSTERDAM, J. D., LORENZO-LUACES, L., & DERUBEIS, R. J. Step‐wise loss of antidepressant effectiveness with repeated antidepressant trials in bipolar II depression. Bipolar Disorders, 18, 563-570, 2016. doi:10.1111/bdi.12442
4 NUNES, Glória Silvia et al. Quando os remédios viram doença? A patologização da normalidade. Littera – Docente e Discente em revista v. 3, n.5, 2017.
5 CORDIOLI, Aristides Volpato; GALLOIS, Carolina Benedetto; ISOLAN, Luciano. Psicofármacos: Consulta Rápida. Artmed Editora, 2015.
6 SILVA, Maura Lima Bezerra e; CALDAS, Marcus Tulio. Revisitando a técnica de eletroconvulsoterapia no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 28,n. 2,p. 344-361,jun. 2008