Neuromodulação e ECT para tratar Ansiedade Crônica
A ansiedade crônica está presente em diversos transtornos acompanhando quadros depressivos, notadamente, e outros marcados por gatilhos perceptuais sobre interações sociais.
Depressão e ansiedade comórbidas, assim como a dor, podem ser tratadas farmacologicamente. No entanto, os tratamentos direcionados aos sintomas (por exemplo, medicamentos betabloqueadores ou benzoadiazepínicos) podem não ser os mais apropriados¹.
Além disso, respostas favoráveis a qualquer tratamento farmacológico podem ocorrer devido a efeitos positivos no humor, doença coexistente ou resposta placebo.
As técnicas de neuromodulação não invasiva, entre elas a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) têm se mostrado promissoras no tratamento de transtornos neuropsiquiátricos².
O mecanismo de ação dos tratamentos de neuromodulação central e periférica é incerto, embora seja provável que seja mediado por neuromodulação de redes neuronais, alterando excitabilidade e conexões (sinapses)¹.
Especificamente sobre a ação da ETCC nos transtornos de ansiedade as evidências ainda são incipientes. Parte disso se deve ao fato de os transtornos ansiosos serem muito heterogêneos, com envolvimento de diferentes áreas cerebrais².
Uma dissertação² de 2017 com objetivo primário de avaliar o efeito da ETCC nos sintomas de Transtorno do Estresse pós-Traumático (TEPT), com análises exploratórias para avaliar os efeitos em cognição e sintomas depressivos e ansiosos. O trabalho observou que pacientes com TEPT refratário, após tratamento adjuvante com ETCC, apresentaram melhora de 20% nos sintomas centrais de TEPT, além de melhora de 60% dos sintomas depressivos e 54% dos sintomas ansiosos.
Apesar de certa diminuição desses efeitos com o passar do tempo, essa melhora se manteve durante todo o primeiro mês após o tratamento. A melhora da cognição ocorreu lenta e progressivamente, sendo estatisticamente significativa no final do primeiro mês de tratamento. E não houve desenvolvimento de efeitos colaterais importantes.
Em relação à ansiedade, especificamente, um estudo publicado este ano avaliou os resultados a longo prazo no funcionamento cognitivo, sintomas psiquiátricos e qualidade de vida para indivíduos submetidos à eletroconvulsterapia (ECT)³.
Os participantes relataram sintomas de ansiedade moderada com maior probabilidade de estarem elevados se os sintomas depressivos também estivessem elevados. Isso sugere que a ansiedade pode ser um alvo clínico valioso quando se trabalha com indivíduos com depressão grave, resistente ao tratamento.
Embora os sintomas gerais de ansiedade não tenham sido substancialmente explorados na literatura da ECT, há mais informações sobre o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo grave com ECT.
A eletroconvulsoterapia mostrou ser um pouco útil para casos graves de transtorno obsessivo-compulsivo, embora a literatura seja limitada pela falta de estudos controlados. O trabalho adverte para que pesquisas futuras continuem a explorar a ansiedade como uma preocupação clínica potencialmente relevante, bem como avaliar a qualidade de vida dos indivíduos antes e depois da ECT³.
Referência:
1 Espay AJ, Aybek S, Carson A, et al. Current Concepts in Diagnosis and Treatment of Functional Neurological Disorders. JAMA Neurol. Published online June 04, 2018. doi:10.1001/jamaneurol.2018.1264
2 MARCOLIN, Kathy Aleixo dos Santos Ferreira et al. Efeito da estimulação transcraniana por corrente contínua em pacientes com transtorno do estresse pós-traumático. 2017.
3 MILLER, Michelle L. et al. Long-Term Cognitive and Psychological Functioning in Post-Electroconvulsive Therapy Patients. The journal of ECT, 2018.