Diretrizes para Tratamento Psiquiátrico com Eletroconvulsoterapia (ECT)
Pode-se definir a ECT como uma técnica de tratamento físico que utiliza descargas repetitivas eletricamente induzidas nos neurônios do sistema nervoso central com fins terapêuticos.
Uma técnica que tem o objetivo de produzir alterações no comportamento ou ainda a finalidade de obter melhora em sintomas psiquiátricos.
Utilizamos os apontamentos realizados por publicação cuja proposta foi realizar uma leitura teórica da técnica, a partir do conjunto teórico-prático do campo da saúde mental, tendo como referência as orientações éticas do Movimento de Reforma Psiquiátrica, intencionando discutir a sua coerência para as práticas de cuidado nesse campo.
Pode-se dizer que a indução repetida de convulsões é o evento principal na eficácia do tratamento. Porém, autores afirmam que as convulsões alteram sintomas individuais ou, no máximo, grupo de sintomas, não funcionando como solução de transtornos ou doenças.
Existe considerável variabilidade entre os clínicos a respeito da extensão em que o ECT deve ser utilizada em primeira instância ou ser considerado apenas quando outros recursos já se mostraram ineficazes
A rapidez e a eficácia da ECT podem fazer dela a primeira indicação para pacientes com depressões graves e grande risco de suicídio, ou mesmo para certos casos de mania aguda que, pela gravidade dos riscos, requeira pronta intervenção.
Alguns critérios citados por especialistas para a indicação de ECT como forma de tratamento:
- deve-se escolher a ECT como tratamento de primeira escolha nos casos em que há necessidade de melhora rápida;
- quando os riscos de outros tratamentos forem maiores comparados aos da ECT;
- quando há histórico de boa resposta à ECT em momentos anteriores ou resposta insatisfatória ao uso de psicofármacos, e ainda, quando a pessoa opta por esse tipo de intervenção.
Como tratamento de segunda escolha, podem ser direcionados casos em que, mesmo na vigência do uso adequado de psicofármacos (quanto à dose e tempo de duração), ocorrer ausência de resposta terapêutica satisfatória, severos ou maiores efeitos colaterais em relação aos da ECT e deterioração do quadro clínico-psiquiátrico.
A ECT aparece como particularmente efetiva para aliviar transtornos depressivos, embora seja apontado que ela promova alívio em estados de humor não somente depressivos, mas maníacos, em psicoses diversas e transtornos motores catatônicos.
À parte essa concordância, muitos outros quadros, que divergem de autor para autor, são citados: as psicoses atípicas e reativas, puerperais, casos de delirium tremens, transtornos conversivos, doença de Parkinson, síndrome neuroléptica maligna, convulsões intratáveis, depressão pós-parto, acinesias, pelagra, dor talâmica e dor severa da neuralgia do trigêmeo.
Em relação às contraindicações, tanto se encontram informações de que nenhuma condição constitui, por si, uma contraindicação absoluta, desde que se tomem precauções apropriadas, quanto as que apontam algumas situações contraindicadas ao uso do ECT.
Uma vez estabelecida a indicação clínica da ECT, os(as) usuários(as) deverão passar por uma extensa avaliação clínica com tripla finalidade: avaliar a gravidade do quadro psiquiátrico, a fim de que sejam estudados os efeitos terapêuticos, avaliar as funções cognitivas através de testes neuropsicológicos, em especial a memória, que servirão como ponto de referência para a avaliação dos efeitos colaterais sobre ela, identificar e tratar quaisquer condições clínicas que possam oferecer riscos de maiores efeitos colaterais ou mesmo que contraindiquem o tratamento.
Referência:
CALDAS, Marcus Tulio et al. Revisitando a técnica de eletroconvulsoterapia no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Psicologia: ciência e profissão, v. 28, n. 2, p. 344-361, 2008.